Bamin negocia entrada de novo parceiro estratégico e aposta em corredor logístico

Bamin negocia entrada de novo parceiro estratégico e aposta em corredor logístico
Bamin negocia entrada de novo parceiro estratégico e aposta em corredor logístico

Empresa busca consolidar modelo que une mina, ferrovia e porto, com foco em longo prazo e sinergia entre mineração, agronegócio e desenvolvimento regional.

A Bahia Mineração (Bamin) vive um momento decisivo em sua trajetória. Após um longo ciclo de maturação do Projeto Pedra de Ferro, a companhia avança nas negociações para a entrada de um novo parceiro estratégico, movimento que promete redefinir o futuro da mineração na Bahia e consolidar o estado como um polo logístico e mineral de relevância nacional.

“Estamos trabalhando com três propostas reais, todas interessadas em um projeto integrado — mina, ferrovia e porto”, revelou Eduardo Ledsham, CEO da Bamin. Segundo ele, o grupo controlador Eurasian Resources Group (ERG), decidiu buscar alternativas após os impactos econômicos decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia. O foco agora é atrair um investidor com visão de longo prazo, capaz de enxergar o valor do corredor logístico que conecta Caetité ao Porto Sul, em Ilhéus, passando a viabilizar não apenas o minério de ferro, mas também outras cargas estratégicas.

A Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) é o eixo central dessa estratégia. Com 62% das obras concluídas, o trecho sob responsabilidade da Bamin foi desenhado para transportar 60 milhões de toneladas por ano, embora o projeto da empresa ocupe, inicialmente, 26 milhões. “A ferrovia foi pensada para ser compartilhada. O corredor vai além da Bamin — ele abre espaço para novos projetos minerais e para o escoamento de grãos vindos do Oeste baiano”, explica Ledsham.

A integração entre mineração, logística e agronegócio é vista como um vetor de transformação regional. “O Porto Sul será a saída natural para a nova fronteira de desenvolvimento do norte de Minas e do Oeste da Bahia. É um corredor que vai reduzir o custo de frete em até 40%”, observa. Além do minério de ferro de alta pureza — com teor natural de 68%, comparável ao do S11D, da Vale —, a estrutura poderá movimentar cargas de soja, milho e até fosfato, impulsionando a competitividade da produção agrícola baiana.

O investimento total previsto é de US$ 5,7 bilhões, abrangendo mina, ferrovia e porto. A nova configuração deverá prever uma repactuação do contrato de concessão da Fiol, com extensão do cronograma de 2027 para 2031. “É um processo natural. Um projeto dessa dimensão exige ajuste de prazos e de responsabilidades, sempre em diálogo com o Ministério dos Transportes e a ANTT”, explica o executivo.

Do total, cerca de US$ 4,8 bilhões já estão assegurados via linhas de crédito, incluindo o Fundo da Marinha Mercante e o BNDES, o que reduz a necessidade de aporte de capital próprio. O restante virá do novo parceiro, cuja participação poderá variar de majoritária a total. “Estamos abertos a diferentes formatos de estrutura societária, mas sempre preservando a lógica do corredor integrado”, reforça Ledsham.

O minério da Bamin tem características que o colocam entre os produtos mais valorizados no mercado global. “Trata-se de um high premium, com baixo teor de contaminantes e alto potencial de descarbonização. Para cada tonelada desse minério, é possível alavancar três na produção siderúrgica. É o tipo de produto que o mundo precisa neste momento de transição energética”, afirma o executivo.

Além da mina principal em Caetité, o projeto abre oportunidades para novos empreendimentos satélites ao longo da ferrovia. “Temos mais de 10 mil pontos de minério cadastrados na Bahia. Se três ou quatro se confirmarem, podemos adicionar mais 40 milhões de toneladas à capacidade atual”, projeta. Esse modelo de polo mineral compartilhado, semelhante ao do Quadrilátero Ferrífero, permitiria o uso de plantas integradas e o compartilhamento de infraestrutura.

Ledsham também destaca o papel estratégico da pesquisa mineral e da persistência tecnológica no sucesso da mineração baiana. “A história da Bahia é de resistência e superação. A mina da Fazenda Brasileiro opera há 40 anos; a Caraíba, que parecia esgotada, ganhou mais 30. Com tecnologia e pesquisa, o mesmo vai acontecer com o minério de ferro”, afirma.

Para o executivo, o momento é de otimismo com fundamento. “Não estamos falando de PowerPoint. O projeto é real: já vendemos 2 milhões de toneladas, sondamos mais de 500 mil metros e expusemos 1,2 milhão de toneladas no pit final. O Porto Sul está licenciado, e a ferrovia avança. O desafio agora é atrair o investidor certo, que veja oportunidade, e não risco”, conclui.

A previsão é que o novo sócio seja anunciado até o primeiro trimestre de 2026, abrindo um novo ciclo para a mineração na Bahia. “Quem chegar agora, bebe água limpa”, resume Ledsham, confiante de que o corredor Bamin-Fiol-Porto Sul será o motor de um novo capítulo de integração logística e desenvolvimento sustentável no Nordeste brasileiro. (Mara Fornari)

Por Brasil Mineral